segunda-feira, 9 de maio de 2011

Segunda É Dia De Poesia - A Ladainha

"A cada dia
basta seu fardo"
dizia a mãe à sua filha
E seguia a filha
carregando às costas
o dobro de seu peso
e tamanho
como se o fardo
que carregasse
nada pesasse
perto da dor
de sua sina
perto da
melancólica
desalegria
que trazia
em sua alma
de menina

Viver é tão difícil
dizia a filha à mãe
E seguia a mãe
carregando
no ventre
mais um
minúsculo ser
quase semente
tão levezinho
como algodão
e sorria a mãe
mesmo sem dentes
nada é difícil
perto do amor
que cabe aqui
e afagava
o ventre bojudo
e dilatado
enquanto carregava
também seu fardo

E lá se iam
as duas mulheres
filha e mãe
e a sementinha
seguindo
a trilha
tal formiguinhas
dia após dia
repetindo
sem pensar
a ladainha
que a bisavó
cantara um dia
"A cada dia
basta seu fardo".

Foto daqui



18 comentários:

Beth/Lilás disse...

São gerações que atravessam os tempos quase da mesma forma, além de carregarem seus fardos, carregam seus lamentos.
Por isso mudar é preciso e algumas pessoas conseguem romper esse ciclo.
As corajosas, certamente.
Tenha uma linda semaninha!
bjs cariocas

Unknown disse...

O penoso fardo da vida,Beijo.

Manuela Freitas disse...

Querida Glorinha,
Cada uma vai carregando seu fardo...mas ouvi dizer desde sempre, «nunca te queixes do fardo que carregas, porque há sempre fardos mais pesados». Voilá cést de Lapalisse ou Lapalice...
Menina tu a fazeres poesia...é sempre a tocar para a frente. Fico á espera desse livro de poemas!
Beijinhos,
Manu

Juli disse...

Que lindo poema!!
Emocionante e realista. Quantas mulheres carregam seus frados, uns mais pesados, uns mais leves. Mas todas são capazes de carregá-los. Mulheres são fortes e guerreiras. Carregam o peso sorrindo um sorriso terno e sincero de quem parece que nada carrega de pesado. Ser mulher e mãe é isso! Lindo mesmo.
Beijinhos e uma ótima semana

Calu Barros disse...

Coube às mulheres fardos pesados, tempos imemoriais, força e coragem para vivê-los.Mas tbém coube a realeza de serem fecundas nos atos e nas palavras.Umas mais outras menos, mas todas igualmente reais.
Lindeza em versos, rudeza em vida.
Amei, Glorinha.
Bjos,
Calu

Cris França disse...

A vida tem suas dores e suas delícias, resta-nos vivê-los cada qual no seu tempo, sem esquecer de ser feliz, por já ter sido triste um dia. bjs querida

ju rigoni disse...

Que poema, tocante, lindo, Glorinha! E lá vou eu, carregando meu fardo, - ladainha ancestral.

Bom "te ler", amiga.

Bjs e inté!

Glorinha L de Lion disse...

Nem sempre só a coragem faz com a vida mude ou o fardo diminua em peso e tamanho Betita...às vezes a vida é dura demais, difícil demais...e colocar-se no lugar do outro é coisa impossível para os seres humanos...só quem carrega o fardo sabe seu peso real...beijos,

Glorinha L de Lion disse...

É sim amigo Manuel...cada um sabe o peso do seu...beijos amigo, bom domingo!

Glorinha L de Lion disse...

Manu querida, é difícil pensar no fardo do outro quando o nosso é tão pesado...as religiões nos ensinam a pensar no peso do outro que deve ser maior que o nosso, etc, etc...como se devêssemos nos sentir culpados por sofrer com o peso do nosso. Sempre a culpa a nos perseguir vida afora! Mas viver é tão difícil, a cada dia acho mais isso....beijos amiga querida,

Glorinha L de Lion disse...

Oi Juli, mulheres são sim, guerreiras, suportamos o peso de um filho, o peso da vida, o peso do mundo...e as mulheres poetas/escritoras carregam esse peso em dobro e talvez com mais dor, pois o sentem na alma e não só no corpo...beijos, obrigada pelo comentário,

Glorinha L de Lion disse...

Comentário poético o seu, amiga Calu.
Creio que o fardo mais pesado é o que se carrega na alma, na certeza de que a vida nada mais é do que um contínuo carregar de fardos...beijos,

Glorinha L de Lion disse...

É verdade Ju...a ladainha que nos acompanha desde sempre, dentro do útero já a ouvíamos...ladainha infinda porque infinita...Difícil carregar a vida, difícil ser carregada por ela...beijos querida, obrigada,

Élys disse...

A cada dia basta o seu fardo...
Tem que ser assim e continuarmos caminhando.
Beijos.

orvalho do ceu disse...

Olá, querida Glorinha
Já comecei hoje uma série poética sobre como reagi diante do seu livro em meu post no Blog de poesia...
Aqui, a ladainha que não tem fim e é permanemente poetisada por vc... Ciclo da vida... interminável...
Bjs de paz e ótima semana.

Glorinha L de Lion disse...

Oi Cris querida, tem toda razão, mas às vezes a vida de certas pessoas é tão dura que o fardo a carregar parece não ter fim...beijos,

Glorinha L de Lion disse...

É sim amigo Élys, e vamos caminhando e seguindo, cada qual com seu fardo leve ou pesado...beijos,

Glorinha L de Lion disse...

Oi Roselinha, já fui lá, obrigada pelo carinho, beijos,